quarta-feira, outubro 19, 2005

MINHAS PREFERIDAS- PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES

Para mim, o hino nacional de minha geração. Dificilmente em atividades políticas e até religiosas, deixavamos de cantar, era o Hino oficial Brasileiro.

A música de Geraldo Vandré, esta era rara não ser cantada. E mais todos tinham a canção de cor e salteada na cabeça. Bastava aparecer um violão e os três acordes que introduziam já eram executados.

Pra não dizer ou Caminhando, foi censurada no Brasil pelos militares durante dez anos. A canção reaparece em 1978, em um Show da cantora Simone, gravado ao vivo do Canecão no Rio de Janeiro.

Mas independente da proibição do regime militar, a música do Paraibano, era cantada em todas as passeatas, assembléias operárias e estudantis e muitas e variadas lutas e atividades das esquerdas e dos movimentos sociais.

Na cadeia os presos políticos enchiam-se de esperanças, ao cantar a canção, que propunha ao invés de armas, flores.

Pra não dizer foi apresentada pela primeira vez, na fase Nacional do III Festival Internacional da Canção da TV Globo. Era 1968, a resistência ao regime crescia nas ruas, praças e avenidas de todo o País e a repressão não conseguia conter o ímpeto de estudantes e militantes de esquerda.

Dois momentos agitaram aqueles dias: a morte pelas mãos dos militares do estudante Edson Luís e a passeata do cem mil no Rio de Janeiro.

Estes episódios cutucaram a onça com a vara curta, como se diz o ditado popular. O Festival da Globo, foi palco para as manifestações das forças contrarias ao regime.

Ainda na fase preliminar do evento, Caetano Veloso foi vaiado por agentes do CCC-Comando de caça aos Comunistas, ao apresentar a canção È Proibido Proibir. Caminhando foi apresentada nas fases eliminatórias, com Vandré acompanhado pelo Quarteto Livre, um time fantástico de artistas: Nana Vasconcelos (tumbadora), Franklin (flauta), Nelson Ângelo (violão) e Geraldo Azevedo (violão e viola).

A música era preferida do público e todos davam como certo sua vitória. A grande finalissima, com maracananzinho, lotado mostrava que Vandré era o favorito. Mas deu zebra, como ficaria famosa a expressão nos anos 70.

Venceu Sabía, linda canção que em minha avaliação, prenunciava o que ocorreria meses depois, com a saída para o exílio de centenas de Brasileiros. Chico Buarque e Tom Jobim, ao lado Cinira e Cybele interpretes de Sabia, foram vaiados pelo Maracananzinho lotado. Vandré ao ser anunciado como o segundo lugar, proferiu o discurso que passou para a História, cuja frase memorável: “A vida não se resume em Festivais”.

A lenda conta que Geraldo Vandré recebeu ordem de prisão antes de receber o prêmio da segunda colocação. Outra noticia, delegada a lenda é de que o Júri do Festival, obrigado foi a dar a vitória a Sabia.