quarta-feira, novembro 30, 2005

O D AFTER DE JOSÉ DIRCEU

Estávamos na frente da porta de fábrica da São Paulo Alpargatas, antiga Tênis Rainha, unidade de Mogi - Mirim.

Era o ano de 1994, dois dias após o lançamento do Plano Real, pelo então Ministro da Fazenda FHC, no então governo tampão de Itamar Franco, vice do cassado Collor, dois anos antes.

Reunidos ali para uma conversa com o turno da tarde da fábrica, estavam sindicalistas, militantes do PT e assessores da campanha para o governo do Estado. Zé Dirceu, o então deputado federal, ex estadual, na época secretário geral do PT nacional, era o candidato petista para governador, em uma eleição que tinha como adversários o tucano Mario Covas e Paulo Maluf.

Muito simpático, ao contrario do que imaginava, conversei pela primeira vez, com um de meus ídolos, o homem que enfrentou e enganou os militares, vivendo no País com outra identidade por 5, 6 anos. Conversamos por vários minutos, na porta da fabrica. Pude sentir ao ouvir aquele homem, a capacidade de elaboração política e de disciplina partidária.

Zé Dirceu nunca foi amado no interior do PT, sempre teve mais inimigos do que amigos, da esquerda á direita. Mas todos sempre reconheceram sua enorme capacidade em controlar máquinas partidárias, bem como sua profunda e inabalável força na articulação. Há quem diga de sua explosão emocional, a ponto de jogar na parede ou arremessar em companheiros aparelhos celulares e relógios.

Certa vez, lá nos anos 80 um velho militante do Partidão ao qual conheci e que não recordo o nome, dizia que a ALN-Aliança de Libertação Nacional - organização guerrilheira dos anos 60 fundada por Carlos Marighela, estaria mais viva como nunca, sendo capitaneada por Zé Dirceu. ALN foi um racha do PCB, mas suas concepções permaneciam muito próximas do Stalinismo, vertente que acredito o ex ministro chefe da casa civil, tem nas veias e nunca abandonou em minha humilde opinião.

Independente se será cassado ou não, no dia de hoje, tenho que reconhecer a enorme capacidade de resistência de Zé Dirceu. Seu esforço em provar sua inocência, é de um belo exemplo a qualquer militante.

Tenho cá comigo, que o esquema de mensalão existiu embora ninguém prove. Também concordo com quem diz, de que Zé Dirceu foi o chefe deste esquema, embora haja quem diga que não se beneficiou em nada com as possíveis benesses destes processos.

Mas apesar disto tudo, Zé Dirceu é um legitimo Stalinista, onde "Os fins justificam os meios", e se for para o bem de uma concepção a qual defende, é capaz de tudo, para que o mesmo obtenha êxito.

Caso o STF não casse a sessão da câmara de hoje, o ex líder da esquerda no episódio da Rua Maria Antonia em 68, será banido do Parlamento Brasileiro. José Dirceu é um militante político clássico, que a causa esta acima dos interesses pessoais. Fazer sacrifício para garantir que o movimento não perca nada, é comum na vida de seres humanos como o ex Presidente do PT.

No fundo de meu coração torço para que o arrogante que não conheci, o simpático que conversei por alguns minutos seja absolvido, mas a razão e as evidencias pedem para que seja cassado.

Uma pagina da História será escrita hoje e pode constituir-se ou em uma injustiça ou na justiça. A mesma História que nunca erra dirá se o desfecho deste episódio foi justo ou não.