quarta-feira, junho 21, 2006

TUDO QUE È SÓLIDO DESMANCHA NO AR



Ontem li um texto, retirado do site http://www.olavodecarvalho.org/ , com o titulo “Apêndice I”, As esquerdas e o crime organizado. Quem indicou foi minha companheira de trabalho Kely Luchesi.
Imprimi e lei para casa.

Após o jantar e ouvir esportes no radio, debrucei sobre o texto e fiz a leitura. Em tempos de violência urbana (vide PCC) e de criminalizaçao dos movimentos sociais (MLST), nada melhor do que tomar conhecimento de teses, posições e opiniões sobre o assunto.

O texto é de 1994, bem anterior ao surgimento do Primeiro Comando da Capital e sua referencia de organização criminosa, é somente o Comando Vermelho. Em relação as esquerdas, o texto menciona e analisa as organizações guerrilheiras do período do regime militar, não há nenhuma recorrência as novas esquerdas ou ao PT. Pelo menos explicitamente não, descubro ao final da leitura que nas entrelinhas sim.

O texto é integrante da obra “A Nova Era e a Revolução Cultural”, do filosofo Olavo de Carvalho, do qual o site retrata. Não o conhecia e confesso que ainda preciso buscar maiores informações, sobre este escritor que nasceu em Campinas e pelo que mostra sua pagina na rede discorre sobre temas políticos e com posições no mínimo retrogradas.

Na verdade o texto analisa o livro “A História Secreta do Crime Organizado”, de Carlos Amorim, o qual me encheu os olhos para ler. Olavo afirma já no terceiro parágrafo que suas considerações seram feitas, no que o mesmo considera como o ponto fraco de Amorim.

O ponto fraco ou erro do livro no entender do filosofo, esta na afirmação de C Amorim, de que as esquerdas nunca tiveram intenção em ensinar presos comuns suas táticas e estratégias de guerrilha urbana. As organizações políticas contrarias a ditadura militar, passaram anos, sendo acusadas de na prisão serem responsáveis pelo ensinamento de regras e leis de luta armada, para prisioneiros que hoje fundaram organizações voltadas para o crime, e em particular o Comando Vermelho. O aprendizado teria se dado durante 1969 a 1978, em especial no presídio de Ilha Grande no Rio de Janeiro.

O autor da obra sobre o crime organizado, não desmente que informações foram repassadas a criminosos, porem concluí o assunto, que durante uma década de pesquisas não encontrou nada que condena-se a esquerda, no sentido de deliberadamente, como parte de uma estratégia de continuísmo da luta socialista, através de braços armados que pudessem ter influencia sobre as massas populares.

Já Olavo de Carvalho, discorre ao contrario. Afirma em quase todo o texto, as pretensões de lideranças de esquerda, em alimentar de conhecimentos, “Bandidos”, que na viagem fantasiosa deste senhor, poderiam com suas ações, abrir caminhos para a Revolução Socialista. Suas defesas, vão no sentido, de que alem de testemunhos pessoais, dar-se conta de que obras, como de Carlos Mariguelha, Regis Debray, Che Guevara e outros, eram doadas aos presos comuns para que os mesmo se instrumentaliza-sem.

O delírio prossegue, com a comparação das orientações das organizações de esquerda com a criminosa, tentando provar semelhanças, identidades e até cumplicidade. O distinto escritor, vai além. Sugere que não interessa aos que na ditadura eram presos políticos e que hoje ocupam cargos públicos, que a verdade venha a tona em que miraboloso plano de utilização do crime organizado foi arquitetado nas prisões Brasileiras com o intuito de tomada do poder.

Lembro com esta perola de pensamento Burguês, a Comuna de Paris de 1879, quando a Burguesia ao entrar em Paris para retomar o poder, utilizou o chamado Lupem do Proletariado. Eram mendigos, sem nada, mortos de fome, assassinos e marginais de toda a espécie. Foram colocados nas primeiras fileiras das tropas burguesas, como buchas de canhão, morreram quase todos, infelizmente nas mãos dos trabalhadores.

O senhor Olavo supõe, esta tática e vai alem, culpa as esquerdas de criarem monstros, que disseminam terror e matam principalmente os pobres e excluídos. Fazedores de morte, Historicamente é o Capitalismo e suas varias versões.

Não há lógica nas acusações. Primeiro que estruturas do crime organizado tem sido provadas que são sustentadas por ramificações ideologicamente comprometidas com projetos de concentração de renda. Não acredito que Homens e Mulheres que sofreram as maiores atrocidades nas cadeias Brasileiras, pudessem aceitar os resultados de seus supostos ensinamentos deliberados e planejados, que tem levado milhões a exclusão social.

Quem se compromete com a liberdade e a vida, não pensaria que seus sucessores patrocinariam verdadeiras chacinas, através da introdução de crianças e jovens no crime organizado. Não há nenhuma hipótese provável que os revolucionários dos anos 70, concordariam em admitir nas estratégias Socialistas, lideranças do quilate de Marcola e Fernandinho Beira Mar.

Sugiro lerem o texto e comprarem o livro de Carlos Amorim. Farei o mesmo, para assim dirimir dúvidas.