quinta-feira, agosto 10, 2006

EU E A HISTÓRIA ELEITORAL


Liberdade!, Liberdade!
Abre as asas sobre nós

E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz.

Leci Brandão, carioca da gema, com os braços abertos, cantava á capela, o refrão deste samba enredo, do carnaval de 1989. Samba da escola Imperatriz Leopoldinense. Tínhamos acabado de chegar a Praça da Sé, cenário de inúmeras batalhas por Liberdade, igualdade e democracia. A Sé era é um manto sagrado para os lutadores por uma vida mais digna e justa.

Foi neste cenário e com a voz linda de Leci, acompanhada por um coro de mais de 300mil pessoas, que realizava-se naquele domingo de Dezembro, o comício final do 1º Turno da Campanha LULA Presidente. De limeira, saíram dois ônibus, de militantes dos movimentos populares e sindical, imbuídos de esperança de que a hora dos pobres, marginalizados e excluídos, terem vez e voz neste País, poderia estar próxima.

Chegamos e já de cara, ficamos todos arrepiados. Havia um atmosfera, de alegria, solidariedade e de muita convicção de que o impossível, não era tão inatingível assim. Aquela reunião de velhos combatentes somados aos novos lutadores, nos contagiava. Eu chorei durante todo o comício, bem como minha companheira Nadir e todos a minha volta. Víamos desfilar pelo palanque, lideranças que foram nossas influencias: Erundina, Suplyci, Fernando Gabeira e outros. Foi a primeira e ultima vez que vi o cantor Taiguara, cantando canções lindíssimas sobre liberdade. Taiguara sempre foi meu ídolo.

Aquela celebração dos de baixo, espremidos um no outro, nos fez recordar dos empregos perdidos, das perseguições e prisões, das humilhações sofridas, pelos companheiros e companheiras, mortos. A luta por um Brasil de justiça e Paz, justificava todas as perdas, obtidas ao longo dos anos. Víamos naquela praça, sonhos e esperanças personificados no operário Luís Inácio, nossa maior referencia. Nos anos 80, que militante não se espelhava em LULA para suas ações e atitudes?. LULA representava aquela massa. Não era para nós o salvador da pátria, mas consigo levava a História dos Oprimidos.

O Socialismo ainda era majoritário nas mentes e corações de todos. Apesar das noticias vindas do Leste Europeu, em que a burocracia estava destruindo um sistema, acreditávamos e ainda acredito, que um regime que haja distribuição das riquezas produzidas pela maioria, ainda era viável. Nunca achei que LULA fosse Socialista. Já produzia algumas analises sobre o metalúrgico de São Bernardo.

Apesar do desfile de lideranças e de artistas de primeiro time, a população daquele comício, esperava com ansiedade nosso comandante máximo. Ouvir um discurso de LULA naqueles tempos, era importantíssimo. Sua oratória nos envolvia e emocionava. Sempre aguardávamos novidades em sua fala e elas viam. Já tínhamos a consciência de que seu conteúdo não era Revolucionário, passeava por palavras de ordem de rupturas com o sistema, mas no geral era Reformista. Porem era o líder máximo que a nós se dirigia.

O cair da tarde, anunciava que o sol daria em alguns minutos lugar a lua, para iluminar a noite que chegava. Aquele dia foi mágico, até a entrada de LULA no palanque. De mágico, se transformou em esplendido, espetacular, inimaginável. LULA não decepcionou. Disse no inicio e no fim de sua fala: Já estamos no segundo turno. Agora é vencer para mudar o Brasil, um Brasil dos Pobres e Oprimidos. Um País sem fome e sem miséria. A Luta companheiros e até a vitória. O jingle da campanha começa a ser tocado e as milhares de vozes acompanham, a melhor música eleitoral de todos os tempos. Voltamos para casa de alma lavada e renascida. Prontos para a batalha do Segundo Turno.

Porém os tempos de bonança, dão lugar aos tempos das trevas. A tropa Collorida, vai as ruas dispostas a vencer a qualquer custo e doa a quem doer. Foi a hora e a vez da baixaria. Mas isto conto no próximo texto.

CONTINUA............