quarta-feira, julho 26, 2006

EU E A HISTÓRIA ELEITORAL IV



Carlos Gilberto Roldão, o garoto de São Simão, sua cidade natal, não era o nome com maiores possibilidades de eleição. No conjunto do grupo que gravitava entorno do Sindicato dos Metalúrgicos, haviam outros nomes, com maior projeção e referencia, junto a massa de eleitores. Ocorre que estas lideranças alegavam estar comprometidas com outras tarefas, as quais de igual importância, assim dirigentes como Wilson Cerqueira, citado pela militância, não aceitou a indicação, alem é claro de não ter filiação partidária.

Corria o ano de 1988. No PT Limeira, o nome da Sindicalista Bancaria Neide Mansur, surgia como o principal nome para o cargo de candidata a Prefeito. Situação que consolidou-se, tendo Carlos Gou Nacaguma, advogado e irmão de George, completando a chapa de Majoritários. A escolha dos candidatos e da chapa de Vereadores, foi tensa e polemica. A convenção municipal, realizada no anfiteatro da Escola Trajano Camargo, foi marcada pela primeira vez pela disputa interna. Dois grupos que vão passar até os dias atuais como adversários no interior do Partido, se apresentam, com posições distintas e divergentes.

O grupo então majoritário, tendo a frente o Presidente e Professor Universitário José Claudinei Lombardi, o Zezo, o futuro Vereador Luís Carlos Pierri, o advogado George Nacaguma, entre outros, tinha um comportamento centralizador e pensava a campanha eleitoral como espaço para divulgar propostas reformistas. Do outro lado do cabo de guerra, o grupo intitulado Rumo ao Socialismo, capitaneado pelos Metalúrgicos, lideranças de pastorais e movimentos populares, tinham serias criticas a instituição, levantavam bandeiras como a das ações diretas e de organização de base. Pensavam que as eleições eram apenas um momento de reflexão e acumulo de forças para lutas por condições melhores de vida, trabalho e salário. Os dois grupos intitulavam-se Socialistas, no entanto o grupo de Roldão, era mais incisivo nesta defesa.

Rolou de tudo na convenção, desde xingamentos como o de Stalinistas, atribuídos a corrente majoritária, até vanguardistas e radicais, atribuídos aos Metalúrgicos e aliados, bem como cadeiradas e empurrões entre os grupos. Apesar disto tudo, o PT estava pronto para disputar aquele pleito. E nós depositávamos na candidatura Roldão, as esperanças de que era possível fazer o debate classista naquele processo. A articulação lança o nome do também metalúrgico Marcel Serpellone, em uma clara tentativa de disputar os votos dos trabalhadores Metalúrgicos.

A campanha Roldão, foi nosso primeiro texte. Simples e com muita dificuldade, fomos trabalhando a candidatura, que assume uma feição de grupo. Era raro, Roldão falar na primeira pessoa, suas falas refletiam sempre o pensamento de um coletivo, que ainda priorizava a luta sindical e que em vários momentos, ausentou-se da campanha. Não me lembro, mas acho que produzimos dois materiais, em uma época em que não havia computador ainda, fazíamos os materiais na maquina de escrever IBM, e a composição na régua e estilete.

A direita divide-se em candidaturas que vão caracterizar-se no rodízio do poder durante 20 anos. De um lado a dupla legal, Richard Drago, então Presidente da Internacional, tendo como vice o Presidente do Independente, Julio Maçorano, do império Graal de Restaurantes e postos de Gasolina. A dupla tinha a benção do então Prefeito Jurandir Paixão, caudilho e populista, perseguidor dos movimentos populares. Na outra ponta, o grupo que sustentava a candidatura do ex Prefeito Paulo D’Andréia, que viria a vencer aquelas eleições, confirmando o rodízio de poder destes grupos. No apoio a D’Andréia e eleito Vereador, estava o hoje Prefeito Silvio Félix.

Roldão não foi eleito, faltou muito pouco, uns 35 votos. A articulação alem de Pierri, elegia o Metalúrgico Marcel. A disputa de rumos no PT e na CUT, acirrava-se, cada vez mais. Neste ano o III Congresso da CUT, iniciava uma guinada a direita, elevando aos céus o discurso corporativista e negociador com a Burguesia. No PT, a bandeira do Socialismo ainda tremulava e um ano antes aprovava-se no 5º Encontro do Partido, a candidatura LULA a Presidente da República.

No campo institucional, 1988 termina com o PT vencendo Prefeituras em varias cidades importantes: Erundina em São Paulo, Jacó Bittar em Campinas, Olívio Dutra em Porto Alegre e outros. A constituição é promulgada e com ela apesar de seu caráter conservador, algumas conquistas dos movimentos populares são contemplados.

A luta sindical ainda é a praia do Grupo de Metalúrgicos. Mas apesar disto, o ano de 1989, começa a mudar nossas vidas. Vem aí o LULA LÁ.

CONTINUA.........