sábado, novembro 05, 2005

A GLOBO AMARELOU


Não sei quantos capítulos teve a novela “América”, escrita pela Glória Peres e veiculada no ar pela rede Globo de Televisão. Deve ter sido um pouco mais de 100 cap, destes assisti apenas um do inicio ao fim.

Ontem como a imensa maioria dos telespectadores, sintonei meu aparelho no canal 20, para acompanhar o último episódio da saga de peões, empresários de rodeio e pessoas que para atingir seus sonhos, são capazes de tudo, pelo menos na imaginação da autora.

Mas o fiz como milhões de Brasileiros, que deram a Vênus Platinada, uma audiência de mais de 60% de televisores, ligados para ver dois Homens beijarem-se na boca, á cores pela primeira vez na História da Televisão no Brasil. Pelo menos é o que se comentou durante toda a semana, através da maioria dos veículos de comunicação. Inclusive pesquisas e enquêtes, focalizavam e perguntavam, como deveria ser o ato amoroso: selinho, ardente, provocador de uma noite de sexo...

Como a maioria das pessoas, fiquei ansioso para saber se o canal que ao longo dos últimos 40 anos, tem ajudado as TFPs da sociedade conservadora e burguesa desta nação a manter “a moral e os bons costumes”, em seu devido lugar, iria finalmente modernizar-se.

A Globo em varias de suas obras apresentou personagens Homossexuais, mas na maioria dos textos, o tema era tratado de forma pejorativa, chacoteada e sem aprofundamento teórico e ético. As bichas eram concebidas como trapalhonas, pilantras, fofoqueiras e quando não cruéis e vilãs. Em América, me pareceu que o tema embora não tivesse o tratamento que desejássemos, transnudado de metáforas e subjetividade e solto em objetividade e realidade, foi mostrado com delicadeza e respeito.

O jovem Junior vivido pelo ator Bruno Gagliaso, tem uma concepção de um ser humano que buscou sua identidade e personalidade, procurando romper com tabus e medos, mesmo os tendo.

Achei que com esta trajetória, a toda poderosa, poderia redimir-se perante a população Brasileira, brindando a nação com uma atitude corajosa e inovadora.

Pensei logo a Globo, diário oficial do regime militar, sustentáculo de Collor de Melo até o apagar das luzes, companheira fiel de FHC, concluí, agora posso confiar que o preconceito e a discriminação poderão ser excluídos do País.

Poderia ser o começo. Mas não foi. Fiquei decepcionado, esperava um beijo daqueles estralados, cheio de tesão e amor. O que vi foi dois Homens apaixonados olharem-se por segundos, sugerindo o ato romântico, embalado pela voz do cantor brega Daniel, que simplesmente assassinou o belo samba canção de Luiz Airão.

Como formadora de opinião, a televisão no Brasil, parece que se exime de responsabilidades, aprisiona-se na concepção atrasada e fascista da elite Brasileira. Acovarda-se nos temas e assuntos nacionais não promovendo discussões acerca de novos conceitos e uma nova ética, de respeito ao pensar e agir diferente, sem camuflagens e subterfúgios.

A Homossexualidade é uma realidade que deve ser encarada como um desafio para a inclusão das pessoas na sociedade, na mesma proporção, que o desafio de combater o racismo, a discriminação de mulheres e outros. Fui dormir desolado. Mais uma vez o preconceito venceu.