quinta-feira, novembro 17, 2005

O SENHOR DA GUERRA NÃO GOSTA DE CRIANÇAS

O titulo faz parte do refrão da música "O Senhor da Guerra", da Legião Urbana. Um clássico anti belicista e que foi composto após a guerra "Tempestade no deserto", a primeira invasão Americana ao Iraque em 1991, a guerra que vimos pela TV.

Lembro da canção do Renato Russo, após assistir ontem na telona do cinema, o fantástico "O Senhor das Armas", do diretor Andrew Nicol, o mesmo de "O Show de Truman", película que detona os programas de sensacionalismo e que mexem com a vida alheia, como os Big Brother e outros. Assisti Truman e comecei a gostar de Jim Carrey como ator cômico que faz drama.

Em Senhor das Armas fiquei arrepiado já na abertura da fita. Ao som de “For What It’s Worth da banda psicodélica country Buffalo Springfield, a câmera passeava sobre o universo das armas e das munições, do poderio bélico de pelo menos das três últimas décadas”. Universo de destruição, morte, miséria e sangue. Porrada levei quando ao final dos créditos a bala que percorria as cenas embaladas pela música dos Buffalos, foi alojar-se na testa de uma criança...

O filme ficção realidade, é um testamento das atrocidades cometidas pelo Capitalismo e sua ânsia em concentrar riquezas, ampliando territórios. A guerra torna-se após a segunda grande guerra, um indústria para grupos econômicos aumentarem suas fortunas, vendendo armas para a auto destruição dos povos. Para os traficantes de armas, tanto faz vender para esquerda, direita, democratas, fascistas. O importante é abastecer um enorme mercado, lucrativo e que interessa aos poderosos da terra, que o sangue de inocentes seja derramado, para obtenção de seus objetivos.

O roteiro em seu inicio, apresenta-se confuso, mas depois a estória desenrola-se com maior clareza. O grande ator Nicolas Cage, interpreta um traficante de armas, que pega de ex comunistas, forças armadas regulares e do crime organizado, e negocia com grupos guerrilheiros, extremistas, sanguinários.

O filme serve como uma aula de História, sobre as últimas décadas do século passado. Tem inicio no final dos anos 70, com a guerra fria em franca ascensão, mas já sendo ameaçada pela globalização econômica. Passa pelos diversos conflitos dos anos 80 que abalaram a bipolarização Soviéticos e Americanos, desemboca, na queda do muro nos Leste Europeu e na derrocada da União Soviética, tem guarida nas guerras e conflitos éticnos na África e nos Bálcãs e termina no conflito Árabe mulçumano.

Desnuda os responsáveis pelas guerras e pela disseminação das armas, mostrando as costas quentes dos traficantes, que mantém redes de apoio e de cumplicidade em vários segmentos da sociedade, desde governos, militares e empresários, a mercenários e gangues.

O Senhor das Armas é um filme denuncia e anti armas, anti guerras. Um filme que não tem o lirismo de filmes manifestos, como Hair e Platoon. O filme de Nicol, é seco, duro, incomoda o estomago, embaraça a consciência, desmonta conceitos e apunhala a falsa moral.

Apenas detectei um problema: O esforço dos produtores em humanizar o traficante, lhe impondo dores de consciência, embora fosse sádico e sarcástico em muitos momentos da obra. Mas tirando esta imprecisão, no demais é um filme que deve ser assistido mais que uma vez. Pretendo assistir novamente.

Uma curiosidade. O diretor não conseguiu que nenhum estúdio Norte Americano produzi-se o roteiro. Há quem diga que Andrew Nicol foi expulso de vários estúdios, quando estava na fase de captação de recursos. Por que será, que Hollywood não quis filmar a obra?.

Por último propondo que algum dia reunamos um bocado de gente para uma sessão dupla: Na matinê "Tiros em Columbine" do Michael Moore e na sessão principal, este Senhor filme.