domingo, agosto 23, 2009

DUAS FACES DA MESMA HISTÓRIA

Dois esclarecimentos se fazem necessário, antes de desenvolver minha tese sobre o comportamento da mídia Limeirense, diante da ocupação do Prédio Abandonado do INSS e posteriormente de um terreno no JD. Olga Veroni, pelo Movimento de Trabalhadores Sem Casa de Limeira. O primeiro é de que sou totalmente favorável a liberdade de imprensa e defensor árduo do Jornalismo que preza em informar o que ocorre na sociedade. Defendo também que não há veiculo de comunicação imparcial nas opiniões, todos tem e devem ter posições ideológicas claras e manifesta-las em seus editoriais. No entanto a informação é que precisa ser isenta, ouvir todos os lados envolvidos e registrar o que realmente aconteceu. Segundo esclarecimento, não defendo, não tenho procuração para isto e muito menos quero fazer guerra de meios de comunicação, tal qual Record versus Globo. Mas como leitor e analista político de quase 30 anos e de relação com a imprensa local, transparente e sincera, tenho o direito e o dever de tecer comentários acerca da produção jornalística de minha cidade.

Feito os esclarecimentos, digo que li a cobertura dos dois Jornais do caso da ocupação do Prédio abandonado e sem utilização há anos do INSS. Confesso que até o dia de hoje(21 de Agosto), considerei as coberturas da imprensa escrita, boa, imparcial e até discreta. Talvez até porque a ocupação dividia manchetes, com a greve da Guarda Municipal, a redução do horário de atendimento na Prefeitura. Até hoje, pois ao ler as duas matérias sobre o assunto, pude concluir que as visões políticas ficaram evidentes nas coberturas. O assunto foi manchete do meio da capa na Gazeta de Limeira e segunda manchete de capa no Jornal de Limeira, que preferiu dar maior destaque ao caso do funcionário fantasma da Prefeitura Municipal, que não compareceu para depor em comissão da Câmara Municipal que investiga o caso. Aqui a primeira diferença: A manchete do Jornal de Limeira, “Sem Casa e Migrantes”, com a foto dos trabalhadores se deslocando do prédio do INSS, para o terreno no bairro. Já a Gazeta demonstra na Manchete seu interesse em destacar não a informação, mas sua posição política. A manchete altamente direcionada “Deixa prédio do Inss e assusta o Olga Veroni”, a foto não condiz com o desfecho do titulo, não se reconhece nenhum morador do bairro em estado de pânico, pavor e medo. È bom destacar que na versão online da Gazeta não encontrei nenhuma matéria sobre o caso do Fantasma. Parece que o tema de total relevância para a cidade, passa a ser secundário para a GL, como se as reivindicações por uma política Habitacional, ameaçassem mais a paz dos munícipes, do que escândalos da máquina pública. Aí a segunda diferença. Posso destacar ainda na capa, as fotos, onde o JL procura mostrar o drama das famílias sem um teto para morar, enquanto a GL, insiste em mostrar que o movimento saiu escoltado por oficiais de Justiça, situação que não ocorreu, já que os ocupantes deixaram o local uma hora e meia antes do cumprimento da liminar de desocupação do imóvel.

Dentro dos cadernos, as diferenças não param. O Jornal de Limeira, resume sua cobertura em informar o que ocorreu. Entrevista lideres do movimento, os oficiais de Justiça, donos do terreno no Jd. Olga Veroni e populares. A Gazeta, ouviu todos os envolvidos, mas centrou sua matéria, no suposto susto dos moradores do JD. Olga Veroni, no discurso falso de que o movimento quer moradia de graça, isto não existe, na coloração preconceituosa e bairrista de que as pessoas que ocuparam o prédio e depois o terreno, não são de Limeira. È claro que não é os Jornalistas que dizem isto, mas as declarações dos populares são dadas como destaque. Alem disto, o terror prossegue insinuando que o Movimento pretende “invadir” outras áreas ou mesmo o prédio do INSS. Ninguém do Movimento afirma isto com todas as letras. A conclusão foi do Jornal.

Penso que não se pode confundir posição política, com preconceito e desinformação. Os veículos de comunicação, não podem substituir o direito que a população tem de ser informada, com discursos panfletários e ideológicos. Se pretende ser um organismo plural na informação, não pode carregar seus textos de opiniões seja do Jornalista, seja do dono do Jornal, para isto tem os espaços editoriais. Se não aquele papo de que é imparcial vai para o ralo, não faz sentido. Podemos questionar o método do Movimento, quanto a buscar seus objetivos, é perfeitamente legitimo. Mas não dá para virar militante desta ou daquela causa política na cidade, não usando espaços para informação.

Espero que o fim da Lei de Imprensa, da obrigatoriedade do diploma, e outros temas, possam colaborar para que os meios de comunicação, venham a entender o real significado da democracia. Todos tem liberdade de expressão, mas o respeito a ética e a pluralidade de concepções precisam ser destacadas.

segunda-feira, agosto 03, 2009

XXXI Congresso da UNE de 1971 e Honestino Guimarães


John Kennedy Ferreira*

"Nunca, porem, tomamos a decisão de cerrar as portas da entidade ou renunciar aos mandatos. Estou convencido de que essa atitude de resistência, sem capitulação e sem derrota definitiva, facilitou a reorganização da entidade máxima dos estudantes brasileiros alguns anos depois, sem uma lacuna abissal que liquidasse a tradição e a memória coletivas". Mesmo depois do seu desmantelamento, nos muros das universidades mutiladas, ainda podia se ler: "A UNE SOMOS NÓS!".
Ronald Rocha
Diretor da UNE - gestão 1971-73

A bastante conhecida a história do XXX Congresso realizado em Ibiúna (1969) que resultou na prisão de quase todos os seus membros inclusive de alguns importantes personagens atuais como Zè Dirceu, Vladimir Palmeira, José Genuíno, Jean Marc Von der Weid e Franklin Martins.

Sabe-se que com a edição do AI 5, a UNE e seus dirigentes entraram na clandestinidade, Jean Marc von der Weid, então presidente eleito da entidade ligado a Ação Popular Marxista Leninista -APML - foi preso no fim de 1969 e Honestino Guimarães - por pertencer a esta mesma corrente - assumiu a presidência interina da entidade.

Em setembro de 1971, em plena ditadura Médici quando a perseguição aos opositores e suas entidades se intensificou, na clandestinidade foi realizado na baixada fluminense o XXXI Congresso da UNE, Honestino Guimarães foi reconduzido a presidência. A eleição se deu com presença de 200 delegados eleitos em encontros regionais precedida de assembléias nas faculdades convocadas por C.a.s, D.a.s, conselhos de turma A atuação da UNE estava bastante restrita pela perseguição da ditadura e a maioria de seus membros agiam clandestinamente, mas mesmo assim realizaram atividades apoiando lutas especificas nas faculdades, organizando o show da velha guarda da Portela, eventos relativos aos 50 anos da semana de Arte Moderna. E também propagandeando a luta democrática por direitos humanos contra a prisão, tortura e mortes nos porões da ditadura como o assassinato de Alexandre Vanucchi Leme,

Em outubro de 1973, Honestino Guimarães e Umberto Câmara Neto foram presos �. Em 12 de Março de 1996, após muitas ações judiciais e gestões polí­ticas foi entregue a famí­lia de Honestino o seu atestado de óbito onde mencionava sua morte. As causas não são citadas e até hoje são desconhecidas. Como ele foi preso pela Marinha, seu irmão Norton Guimarães, cogitou que seu corpo fora perfurado na barriga (para não boiar) e jogado ao mar, como era prática do Centro de Informação da Marinha, o temí­vel CENIMAR. Em recente pronunciamento na câmara de deputados, Manuela D’ávila (PcdoB-RS) expôs que há depoimentos (citando o livro Sem Vestígios� de Tais Moraes ) dizendo que este teria sido morto em 1974 meses após o seu desaparecimento e seu corpo teria sido enterrado as margens do Rio Araguaia, ao lado de Guerrilheiros do Araguaia.

O estranho que este governo que tem um presidente da república ex-preso polí­tico, que tem uma importante Ministra que igualmente foi presa e torturada pela ditadura, outro ministro preso no congresso de Ibiúna e mais um, ex presidente da UNE não tenha solicitado até o presente momento uma investigação sobre o paradeiro dos restos mortais deste brasileiro.

Neste ultimo julho, no congresso da UNE um passo importante foi dado no sentido de resgatar um dos momentos mais dramáticos e heróicos da entidade e de seu presidente assassinado pela ditadura. Foi apresentada pelo estudante Glauco Araújo (coordenador do DCE da UFRS, membro da corrente Libre ), moção de resgate do XXXI Congresso realizado em 1971. A moção foi aprovada por aclamação. Glauco se apoiou em depoimento de Ronald Rocha, ex-diretor da gestão de 1971-73 e no importante levantamento feito pelo historiador Augusto Buonicore. Tão importante quanto o gesto de Glauco Araújo e dos aplausos no Congresso da UNE ao resgate e a justiça que se faz da história de Honestino Guimarães, da UNE e dos que lutaram contra a ditadura e pela democracia brasileira e ali tombaram.

O congresso de reconstrução da UNE feito em 1979 recebeu a numeração de XXXI e não XXXII, pois este encontro não reconheceu o congresso de 1971.

Se for levada em conta esta importante página perdida da história da UNE, o atual Congresso seria LII e não LI. Em 2011 completarão 40 anos desse momento histórico, talvez a melhor homenagem que a atual geração possa prestar a Honestino Guimarães , Umberto Câmara , Helenira Resende, Antonio Ribas, Gildo Macedo Lacerda (e outros tantos) seja o reconhecimento (numérico) de que seus esforços, suas vidas não foram esquecidas e que a luta por justiça social continua viva!

*John Kennedy Ferreira
Mestre em Ciência Polí­tica PUC-SP
Professor da PMSP

Extraído: http://www.vermelho.org.br/