terça-feira, outubro 25, 2005

LEMBRANÇAS DE UM TEMPO QUE INSISTE EM VOLTAR

Era 1º de maio de 1985, a Igreja Católica organizava, a missa do Trabalhador na paróquia de São Cristóvão. Templo lotado, mais de 2mil pessoas, que refletiam a luz da fé, a condição de explorados em que viviam.

Em outro local, mais precisamente na Praça Toledo de Barros, parte da classe trabalhadora, lotava a área de lazer para assistir dirigentes sindicais pelegos e o Prefeito da cidade "comemorarem" o dia do trabalho e não do trabalhador.

Era o encerramento do torneio das indústrias e ali seria feito a premiação aos campeões. No templo católico, concentrava-se lideranças dos movimentos populares em ascensão naquele instante, pastorais populares, sindicalistas ligados a oposição metalúrgica e militantes do PT.

A celebração termina e a multidão decide em fazer uma passeata pelas ruas da cidade, com termino na praça central, a Toledo de Barros.

Enquanto isto no palanque,um Prefeito autoritário e populista, preparava-se para um discurso de festa, tudo foi preparado para isto, ao seu lado a Presidente da Câmara Municipal da época Elza Sofhia Tank Moya.

Descendo a Rua Tiradentes, os manifestantes empunhavam faixas e bandeiras de protesto a política econômica vigente e com reivindicações como asfalto e melhorias no transporte coletivo.

A combinação de uma plataforma nacional com a local e a fé com combustível para a luta. No coreto improvisado como palco, Jurandir Paixão exercendo seu segundo mandato como prefeito do município, não imaginaria que teria que mudar seu discurso, pronto para enaltecer seu governo e tecer elogios aos sindicalistas da ordem e progresso que com ele dividiriam o microfone.

Entusiasmadas as mulheres eram maioria na passeata da fé, ao contrario dos que encontravam-se na praça. O encontro foi inevitável e o confronto impossível de evitar, em um tempo em que a tolerância ainda era coisa do passado e a ditadura fazia-se presente.

Paixão não tolerou as faixas e as palavras de ordem, que pediam melhores dias e não festa. Paixão não tolerou as vozes femininas que insistiam em ser mais fortes que as masculinas. Paixão não suportou os reclamos do povo que enxergava o mundo de outra forma, não um mundo de privilegiados e seus seguidores e sim de uma maioria excluída e cada vez mais pobre.

Paixão ataca, muda o conteúdo de sua oratória, não poupa os padres que cumpriam a missão delegada a eles por Cristo, a de pastores de ovelhas, tratar delas para que não passem fome, nem frio, os acusa de mentecaptos e outras perolas do vocábulo dos xingamentos.

Mas o ápice dos palavrões, foi contra as mulheres, ele não as poupou, mesmo tendo uma a seu lado. Elas, as mulheres, muitas jovens, mas varias senhoras, algumas idosas inclusive. Ele, Paixão disparou sem piedade e compaixão: "Vocês suas Histéricas (e Frenéticas) Menstruadas" e outros adjetivos. Ao seu lado uma mulher, que calada ouvia os impropérios e que mais tarde homologaria aquelas atitudes.

As mulheres afrontadas e ofendidas, seguiram seu caminho. Paixão não encontra-se mais no mundo dos vivos. Mas ontem pensei que estivesse entre nós.