sexta-feira, dezembro 16, 2005

O EFEITO JOÃO GRILO X O EFEITO DOM JOÃO VI

O Auto da Compadecida obra de Ariano Suassuna, prima por apresentar um personagem João Grilo, que para sobreviver e superar a miséria e a fome do Nordeste da fome e dos coronéis, aplica pequenos golpes, inclusive no diabo.

Conheço alguns Joãos Grilos, que sem intenção de enriquecer-se, as custas dos outros ou de métodos escusos e corruptos. Nunca considerei João Grilo um malandro que permea-se sua conduta apenas para beneficio próprio.

Pelo contrario, seu fiel companheiro Chicó era constantemente protegido pelas idéias mirabolantes de João, alem é claro de outros personagens em sua maioria pobres e miseráveis como ele. Alias João não aplicava sete um nos pobres. Suas vitimas eram os Coronéis símbolo de riqueza e exploração, o comerciante ganancioso e sua mulher adultera, o padre e o Bispo corruptos e mesquinhos. A santíssima trindade que vive até os dias de hoje no topo da pirâmide social.

Nosso ilustre malandro é inocentado e perdoado pelas pequenas travessuras, nada mais nada menos por Nossa Senhora, mulher e mãe do Salvador, que na obra é negro, como a maioria de nosso povo. Enquanto as elites da cidadezinha nordestina foram condenadas ao fogo do inferno. Para mim a obra de Suassuna é Revolucionária e extremamente atual.

Na outra extremidade esta um personagem real, literalmente Dom João VI. Ao contrario de seu chara, João VI o rei de Portugal no inicio do século XIX, era ambicioso e corrupto, representando bem os interesses da corte no Brasil.

Fugido da Europa, por conta da invasão Napoleônica a Portugal, o rei gordo e bonachão, transferiu a sede do reino para o Rio de Janeiro e para cá trouxe tudo o que foi capaz de roubar e pilhar de seu País.

Ao chegar em terras brasileiras, mostrou suas garras desapropriando e desalojando cidadãos para acomodar seu seguidores e puxa sacos. Dom João e sua turma era adepta aos métodos mais espúrios de passar os outros para trás, com enormes golpes que rendiam dividendos e propriedades, aumentando sua pilhagem.

A corte Portuguesa primava pela total falta de vergonha e completa libertinagem. A chantagem política e pessoal eram pratos típicos dos que imperaram neste período.

A emergente Burguesia Brasileira, fazendeiros, usineiros e pequenos comerciantes, ao invés de resistir a pilhagem e malandragem da corte, unia-se aos alcaides, aumentando ainda mais a exploração sobre o povo pobre e os escravos.

Hoje penso que temos estes dois efeitos em nossa sociedade, a do malandro do bem e a do malandro que aplica golpes para obter vantagens pessoais. Digo sempre que a luta pela sobrevivência, quando não se tem consciência coletiva e de classe, leva a comportamentos distintos, inclusive a degeneração ética e moral.

Mas apesar de não concordar nem com os pequenos golpes, sou muito mais João Grilo do que Dom João.