terça-feira, outubro 10, 2006

UM CONTO


SEU NOME: SE NÃO ME ENGANO É JESUS


Maria Madalena, andava pelo barraco arrastando o barrigão de 8 meses. O rebento seria ao nascer o sexto de seu ajuntamento, como ela mesmo diz de 8 anos com o negão Jesus. Estava agoniada, pois já passava das dez e seu homem ainda não tinha voltado do trabalho. Trabalho, fixo e seguro, a um tempão Jesus não tinha, o cara tava no bico e nos biscates fazia anos. Drogas e bugigangas roubadas, nem pensar.
Apanhou de Herodes o chefe do bando de Pilatos no morro, várias vezes por não aceitar virar mula ou soldado da gangue.Tinha a sua turma, gente da melhor qualidade da favela: Pedro era mecânico de autos da oficina do Senhor Zaqueu, homem rude e que só pensava em dinheiro, até que conheceu Jesus, resolveu empregar os amigos do sangue bom e distribuir comida para o povo que passava fome.
João era como irmão para Jesus, que o protegia de tudo e de todos. Era o mais jovem da turma, trabalhava no armazém de Lázaro, também da turma e a noite incentivado por Jesus e os outros fugia das drogas e do crime, indo a escola. Eram em treze Amigos, entre elas, Tiago, Matheus, Lucas, o indeciso, porem gente boa Tomé. Todos Trabalhadores, honestos que labutavam com as injustiças do mundo.
Jesus era sem dúvida o mais inteligente de todos. Participava da Associação de Moradores da Favela e lá aprendeu que a única forma de termos justiça neste mundo é o povo se unir e lutar por uma vida melhor.
Jesus era o orador do bairro, várias lutas foram travadas sob sua liderança. Aquela contra a empresa Fariseus, que como uma grileira, apresentou escritura falsa do terreno e dizendo, que os barracos iam ser derrubados e o povo que se virasse, que naquele lugar um Shopping Center seria construído. O povo se uniu, com o apoio de advogados dos Direitos Humanos, os padres da Igreja e alguns Vereadores do Partido dos Zelotas, gente como eles lá do morro, a vitória chegou e nada foi derrubado.
Jesus era o cara que tudo via, tudo sabia, que procurava proteger sua gente. As crianças eram sua prioridade, não admitia que as maltratassem, denunciava para as autoridades quem isto fizesse. Os amigos, o povo do morro, adorava ouvir Jesus, ele que muito lia, informado socializava com sua gente. Não tinha condescendência com político safado, que vive o tempo todo enganando os pobres.
Adorado pelo morro, admirado pelos grupos progressistas, Jesus era odiado pelo Tráfico e pelos políticos que só queriam explorar.
Esta situação de ódio, materializou-se em ameaças de morte, tentativa de desmoralização pessoal, moral. Os amigos alertavam Jesus, para que não andasse sozinho, os moderados solicitavam que diminuísse o fel da língua, mas Jesus dizia que não iria calar.
Já eram mais de 10 da noite e Jesus não chegava. Madalena começa ficar aflita, preocupada. No dia anterior Pedro ao tomar um café na casa da comadre, confidenciou a ela, que não confiava no vendedor ambulante Judas, pois o viu várias vezes a conversar com o traficante Herodes e uma assessor do Prefeito César.
O tempo passava e nada do negão. Mais tarde a mãe de Jesus, Maria, amparada por João é que dá a noticia: o Filho amado, o marido amado, o irmão amado, o amigo amado, foi dedurado por Judas, que ganhou 300 reais e morto foi com várias rajadas de metralhadora, por Traficantes e Policiais Militares.
O povo chorou, ficou com medo, achou que a esperança tinha morrido. No entanto Jesus e sua fé em um mundo novo continua firme na memória e na vida do povo do Morro de Jerusalém.
OBS: Este conto publicado pela primeira vez no extinto site Tiro e Queda em 2003, foi inscrito no concurso Cantos e Contos da Secretária Municipal de Cultura.