O POTE DE MANTEIGA E A JUSTIÇA
- dói, a barriga, doí.
- vai ver é diarréia. O que comeu ontem? Ovo frito, cebola?
- Nada, um cardo de fejão ralinho, ralinho,. Deixei o arroi pras crianças, mesmo assim uns grão. Pouquinho, pouquinho.
- Matou a fome dos menino?.
- Que nada. Drumiram de cansaço.
- e aí?
- Num sei.
- Dá vontade de robá
-Deus me livri, dá cadeia. Num posso dexá meus fios. O pai, tá nem aí. O negoço é bebe e ficá na boca, fumando e cherando.
- Mas vá deixa passa fomi? cês vão morre?.
Nisto maria, a filha mais velha acorda e diz:
- Mãe num tem leite?
- Não, num tem?
- Eu quero.
E o choro que era fraco, torna-se continuo, mas cada vez mais fraco. È a fome.
Mãe, vê a cena, desespera-se e saí.
Penso que foi esta situação acima, que motivou a doméstica Angélica Aparecida de Souza Teodoro, a ir até um supermercado e furtar um pote de manteiga.
A fome é indecifrável e incompreensiva. Quando se tem fome é impossível, pedir bom senso e remeter a valores ditos morais da sociedade.
Com a fome, senso de civilidade, da sociedade capitalista e de consumo, não tem a menor importância. Quem com fome fica, só tem um pensamento, matar a sua e a de seus familiares que morrem de fome.
Pensar em aplicar a lei, a casos com de Angélica, beira as rais do absurdo. Preso deveria estar Paulo Maluf, Mensaleiros e tantos outros do colarinho branco.
A justiça não pode valer-se de regras antigas e superadas, para supostamente fazer justiça.
Justiça deve ser a que protege os pobres das injustiças cometidas pelos Ricos. Não se pode aplicar leis que não foram feitas para proteger os fracos.
Justiça deve prevalecer para levar comida á quem não tem e punir os que tiram a comida da boca da maioria.
Um pote de manteiga, separou por vários meses uma mãe de seus rebentos, que desamparados continuaram a passar fome.
Um pote de manteiga....
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