SÉRIE INTOLÊRANCIA: EM TEMPOS DE ARAPONGAGEM
ESPIAR A VIDA ALHEIA, DESDE OS TEMPOS DO HOLOCAUSTO
Esposa: Onde está Klaus? Klaus! Onde é que se meteu esse menino?
Esposo: Por que você está tão nervosa? Só porque o menino saiu?
Esposa: Eu não estou nervosa. Você é que está nervoso. Anda tão descontrolado...
Esposo: Estou o que sempre fui, mas o que tem isso a ver com a saída do menino?
Esposa: Você sabe como são crianças. Ficam ouvindo tudo.
Esposo: e daí? Que é que tem?
Esposa: Que é que tem? E se ele contar? Você sabe que na Juventude Hitlerista eles tem que contar tudo. O estranho é que ele saiu de mansinho.
Esposo: Ora, que bobagem!
Esposa: O que é que ele teria ouvido da nossa conversa?
Esposo: Ele não dirá nada. Ele sabe o que acontece aos que são denunciados.
Esposa: E que é que tem isso? O filho do vizinho não delatou o próprio pai? Ele ainda não saiu do campo de concentração.
Esposo: Deixa disso. Você está se alarmando á toa.
Esposa: Você disse que os jornais mentem. Você falou sobre o Quartel General. Não devia ter falado. Klaus é tão nacionalista.
Esposo: Mas o que foi que eu disse, precisamente?
Esposa: já se esqueceu? Você falou certas sujeiras lá dentro.
Esposo: Bem, isso não pode ser interpretado como um ataque. Eu disse que nem tudo lá dentro é limpo. Não, fui até mais moderado, eu disse que nem tudo é completamente limpo lá dentro. Isso faz diferença. Eu disse: pode ser que nem tudo seja completamente limpo, lá. O completamente suaviza a palavra limpo. Foi assim que eu formulei: pode ser. Não quer dizer que seja.
Esposa: Você não precisa me dar todas essas satisfações.
Esposo: Eu gostaria de não ter que dar. Mas sei lá o que você é capaz de transmitir por aí do que se conversa aqui em casa. Não estou acusando você de nada e nem acho que o menino é um delator. Mas....
Esposa: Você quer parar com isso? Você esta dizendo que não se pode viver na Alemanha de Hitler.
Esposo: Por que você está tão nervosa? Só porque o menino saiu?
Esposa: Eu não estou nervosa. Você é que está nervoso. Anda tão descontrolado...
Esposo: Estou o que sempre fui, mas o que tem isso a ver com a saída do menino?
Esposa: Você sabe como são crianças. Ficam ouvindo tudo.
Esposo: e daí? Que é que tem?
Esposa: Que é que tem? E se ele contar? Você sabe que na Juventude Hitlerista eles tem que contar tudo. O estranho é que ele saiu de mansinho.
Esposo: Ora, que bobagem!
Esposa: O que é que ele teria ouvido da nossa conversa?
Esposo: Ele não dirá nada. Ele sabe o que acontece aos que são denunciados.
Esposa: E que é que tem isso? O filho do vizinho não delatou o próprio pai? Ele ainda não saiu do campo de concentração.
Esposo: Deixa disso. Você está se alarmando á toa.
Esposa: Você disse que os jornais mentem. Você falou sobre o Quartel General. Não devia ter falado. Klaus é tão nacionalista.
Esposo: Mas o que foi que eu disse, precisamente?
Esposa: já se esqueceu? Você falou certas sujeiras lá dentro.
Esposo: Bem, isso não pode ser interpretado como um ataque. Eu disse que nem tudo lá dentro é limpo. Não, fui até mais moderado, eu disse que nem tudo é completamente limpo lá dentro. Isso faz diferença. Eu disse: pode ser que nem tudo seja completamente limpo, lá. O completamente suaviza a palavra limpo. Foi assim que eu formulei: pode ser. Não quer dizer que seja.
Esposa: Você não precisa me dar todas essas satisfações.
Esposo: Eu gostaria de não ter que dar. Mas sei lá o que você é capaz de transmitir por aí do que se conversa aqui em casa. Não estou acusando você de nada e nem acho que o menino é um delator. Mas....
Esposa: Você quer parar com isso? Você esta dizendo que não se pode viver na Alemanha de Hitler.
Esposo: Eu não disse isso!
Esposa: Você age como se eu fosse a Gestapo! O que me aflige é o que Klaus possa ter ouvido.
Esposo: A expressão Alemanha de Hitler não está no meu vocabulário.
Esposa: Essas afirmações só podem prejudicar um espírito infantil. E o Fuhrer não se cansa de dizer: “O futuro da Alemanha está na sua Juventude”. O meu filho não é um delator!
Esposo: Mas é vingativo.
Esposa: Mas, agorinha mesmo eu dei vinte centavos a ele. Eu lhe dou tudo o que me pede...
Esposo: Isso é suborno.
Esposa: Como suborno?.
Esposo: Se houver qualquer coisa vão dizer que tentamos suborna-lo para ele não dizer nada.
Esposa: O que você acha que eles podem fazer contra você?
Esposo: Oh, tudo! Não há limite para o que eles possam fazer.
Esposa: Mas não há nada contra você!
Esposo: Há sempre alguma coisa contra todo mundo.
Esposa: Karl, não perca a coragem. Você deve ser forte, como o Fuhrer sempre...
Esposo: Não posso ficar tranqüilo quando...
(Um toque de telefone. Eles se abraçam, aterrorizados, e ficam olhando para o ponto de onde veio o som. Dois toques; três. Esposa faz um movimento.)
Esposa: Atendo?
Esposo: Não sei. Espere.
(Eles aguardam. Um quarto toque.)
Esposo: Se tocar de novo, nós atendemos.
(Silencio. Depois de um tempo, esposo fala.)
Esposo: Isso não é vida.
Esposa: Karl.
Esposo: Você me gerou um Judas. Senta á mesa do jantar e ouve. Toma a sopa e ouve. O delator!.
Esposa: Você acha que devemos nos preparar?
Esposo: Você acha que eles vem agora?.
Esposa: Tudo é possível.
Esposo: Ponho a Cruz de Ferro?.
Esposa: Claro, claro. E botamos o retrato de Hitler em cima da escrivaninha, não é melhor?
Esposo: Sim. (Esposa começa a executar a ação, quando esposo a interrompe.)- Espere! Se o menino disser que o retrato não estava aí antes, é uma agravante. Será apontado como consciência de culpa. (Um ruído.) – Que barulho foi esse? A porta?
Esposa: Não ouvi nada. (Agora um rumor bem nítido.)
Esposo: Ouviu?
Esposa: (aterrada, abraçando-o) Karl!
Esposo: Não vamos perder a cabeça. Vá lá.
(Esposa sai. Esposo fica sozinho no centro da arena, aguardando. Ouve-se a voz da esposa.)
Esposa: Onde é que você se meteu?! Responda, Klaus! (Uma pausa. Ela muda nitidamente de tom e depois pergunta de novo, com a voz melíflua.) – Onde você andou até agora, meu filhinho?
Esposa: Ele disse...que foi comprar Chocolate. (Eles se olham e começam a sorrir. Correm um para o outro e se abraçam. Aliviados. Aí a expressão dos dois começa novamente a mudar e o esposo, afastando-se da esposa, pergunta.)
Esposo: Será verdade?
EM TEMPO: Trecho da peça de Bertolt Brecht “Terror e Miséria do III Reich”.
Esposa: Você age como se eu fosse a Gestapo! O que me aflige é o que Klaus possa ter ouvido.
Esposo: A expressão Alemanha de Hitler não está no meu vocabulário.
Esposa: Essas afirmações só podem prejudicar um espírito infantil. E o Fuhrer não se cansa de dizer: “O futuro da Alemanha está na sua Juventude”. O meu filho não é um delator!
Esposo: Mas é vingativo.
Esposa: Mas, agorinha mesmo eu dei vinte centavos a ele. Eu lhe dou tudo o que me pede...
Esposo: Isso é suborno.
Esposa: Como suborno?.
Esposo: Se houver qualquer coisa vão dizer que tentamos suborna-lo para ele não dizer nada.
Esposa: O que você acha que eles podem fazer contra você?
Esposo: Oh, tudo! Não há limite para o que eles possam fazer.
Esposa: Mas não há nada contra você!
Esposo: Há sempre alguma coisa contra todo mundo.
Esposa: Karl, não perca a coragem. Você deve ser forte, como o Fuhrer sempre...
Esposo: Não posso ficar tranqüilo quando...
(Um toque de telefone. Eles se abraçam, aterrorizados, e ficam olhando para o ponto de onde veio o som. Dois toques; três. Esposa faz um movimento.)
Esposa: Atendo?
Esposo: Não sei. Espere.
(Eles aguardam. Um quarto toque.)
Esposo: Se tocar de novo, nós atendemos.
(Silencio. Depois de um tempo, esposo fala.)
Esposo: Isso não é vida.
Esposa: Karl.
Esposo: Você me gerou um Judas. Senta á mesa do jantar e ouve. Toma a sopa e ouve. O delator!.
Esposa: Você acha que devemos nos preparar?
Esposo: Você acha que eles vem agora?.
Esposa: Tudo é possível.
Esposo: Ponho a Cruz de Ferro?.
Esposa: Claro, claro. E botamos o retrato de Hitler em cima da escrivaninha, não é melhor?
Esposo: Sim. (Esposa começa a executar a ação, quando esposo a interrompe.)- Espere! Se o menino disser que o retrato não estava aí antes, é uma agravante. Será apontado como consciência de culpa. (Um ruído.) – Que barulho foi esse? A porta?
Esposa: Não ouvi nada. (Agora um rumor bem nítido.)
Esposo: Ouviu?
Esposa: (aterrada, abraçando-o) Karl!
Esposo: Não vamos perder a cabeça. Vá lá.
(Esposa sai. Esposo fica sozinho no centro da arena, aguardando. Ouve-se a voz da esposa.)
Esposa: Onde é que você se meteu?! Responda, Klaus! (Uma pausa. Ela muda nitidamente de tom e depois pergunta de novo, com a voz melíflua.) – Onde você andou até agora, meu filhinho?
Esposa: Ele disse...que foi comprar Chocolate. (Eles se olham e começam a sorrir. Correm um para o outro e se abraçam. Aliviados. Aí a expressão dos dois começa novamente a mudar e o esposo, afastando-se da esposa, pergunta.)
Esposo: Será verdade?
EM TEMPO: Trecho da peça de Bertolt Brecht “Terror e Miséria do III Reich”.
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