terça-feira, agosto 14, 2007

UM POEMA CLÁSSICO




ODE AO BURGUÊS Mário de Andrade

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel

o burguês-burguês!

A digestão bem-feita de São Paulo!

O homem-curva! O homem-nádegas!

O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,

é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!


Eu insulto as aristocracias cautelosas!

Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!

Que vivem dentro de muros sem pulos,

e gemem sangue de alguns mil-réis fracos

para dizerem que as filhas da senhora falam o francês

e tocam os "Printemps" com as unhas!


Eu insulto o burguês-funesto!

O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!

Fora os que algarismam os amanhãs!

Olha a vida dos nossos setembros!

Fará Sol? Choverá? Arlequinal!

Mas à chuva dos rosais

o êxtase fará sempre Sol!


Morte à gordura!

Morte às adiposidades cerebrais!

Morte ao burguês-mensal!

Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!

Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!

"— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?

— Um colar... — Conto e quinhentos!!!

Más nós morremos de fome!


"Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!

Oh! purée de batatas morais!

Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas!

Ódio aos temperamentos regulares!

Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!

Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados

Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,

sempiternamente as mesmices convencionais!

De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!

Dois a dois! Primeira posição! Marcha!

Todos para a Central do meu rancor inebriante!


Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!

Morte ao burguês de giolhos,

cheirando religião e que não crê em Deus!

Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!

Ódio fundamento, sem perdão!


Fora! Fu! Fora o bom burguês!...

PS: Não conhecia este texto, até assistir o bom Planeta Cidade, programa de TV Cultura, que vai ao ar, todo o domingo, ás 19h. Na edição do ultimo dia 12, dia dos Pais, um quadro, fez uma reportagem especial, sobre os 180 anos de vida da mais importante faculdade de Direito do Brasil. A Faculdade São Francisco e seu diretório acadêmico XI de Abril. No Programa soube que o Poeta Modernista Mario de Andrade, recitou pela primeira vez Ode ao Burguês, das escadarias da Faculdade. Por isto não poderia deixar de registrar.