quarta-feira, agosto 01, 2007

UM POEMA, UMA UTOPIA POSSÍVEL

Ao João Geraldo Lopes

TERRÁ! – de PAULO CORRÊA

Qui bom seria ventú si tu ventasse

ventasse forti
I mi jogasse pros cofins da Lua
lá pra pertu das estrela

praquela lonjura devi di ter um lugar
donde si prantá
Nem carecia di fazê muita força,
tô só carne e osso
mais leve qui uma maria-doida e
tão faminto quantu um carcará

Por aqui tá tudo ocupado
Num tem chão livri
Tá tudo cercadu com
gradi portão portera e cadiado
Quem é os dono? É aquele povo de
gratva... é Renan, o
seu Sivirino, o seu Silvinho Pereira,
seu Marco Aurélio, seu Valdemar...
Qui tem um mundão di terra só pra
criá gado

I quando agenti resorve si acomodar
nos confins do sertão,
ondi a terra é dura feito chumbo,
ondi o sol é sujo
Ondi os passarinho nem avoa e até
as nuvem foge do lugar

Us juiz manda os homi tira nois do
sussego
Ai enfureci
Aí é mão na foice, machado e
terçado
I então o sangue inunda o cerrado
Pra modi cumpri a profecia,
do sertão virá mar
Mar vermeio

Se mãe tivesse mi tido mais cedo
talvez encontrasse um dedo de
chão sobrando por ai

Mas matutando mió
a curpa num é bem dela não,
puisquê mi alembro qui quandu
era piá
minha mãe mi
dizia que a vó i ú vô
também num tinha chão pra ficar.

Ahh! Ventú
mi leva logo pra banda de lá

Mi leva pra Lua
Chegando lá eu arava as terra,
cerqueiava tudo e construía uma
casinha
I ia viver a vida regando as estrelas
Pra modi ter trabalho
afim di colher um cadim de
dignidade à
centenas de milhas daqui

PS: Magnífico poema, do meu camarada Paulinho Corrêa. Foi postado no seu blog www.pautalivri.blogger.com. Um misto de Guimarães Rosa, Vinicius de Moraes da fase engajada e Dom Pedro Casaldaliga. Fico lisonjeado, com a dedicatória. Obrigado Paulinho.