segunda-feira, setembro 26, 2005

MAIS UM POEMA

Fiz Saudades, após testemunhar o sofrimento de uma mãe amiga minha, que chora todo dia por ter sua filha envolta com as drogas e o trafico. Conheço a menina. Ela é linda. Pensei nela ao fazer este e um outro "Encruzilhada". Saudades foi apresentado na Exposição "Novos Talentos", da Câmara Municipal.

SAUDADES
Janjão/2005

Há que saudades de um tempo que não vivi
De um tempo em que tinha um teto para viver
Comida na mesa, para esbaldar-me, de tanto comer
Roupas limpas e novas, nada de marca famosa. Apenas algo pra vestir

Há que saudades de um banco de escola, a qual não tive acesso
Nem eu nem meus irmãos. A gente foi cedo vender balas nos faróis
E cedo pequenos furtos fazíamos para ter o que levar pra casa
Não havia tempo para sala de aula

Há que saudades de um pai e uma mãe
Meu pai não conheci, nos abandonou quando nasci
Minha mãe, para nos sustentar, muitos homens
Pra sua cama levou. Quantos não a fez chorar

Há que saudades de um tempo que não vivi
Um tempo de conversas na esquina, sem medo
Da polícia ou de traficante
De um tempo de risadas e conversas de cuca limpa

Há que saudades de oportunidades, as quais nunca tive
Oportunidade de emprego, digno
Oportunidade de lazer e cultura de boa qualidade
Oportunidade de convívio com o Negro, o Branco, o Amarelo

Há que saudades de uma vida sem prisões
Sem algemas, sem correrias por entre muros
Um mundo sem pancadas, torturas, trancas e solitárias
Um mundo sem cercas e que todos possam ver o sol sem autorização

Há que saudades da Paz que não tenho