terça-feira, setembro 05, 2006

SENHORA COERÊNCIA

Ontem escrevi um post sobre compromisso com a construção de lutas para mudar o mundo. Nada utópico e sim pratico, para quem acredita ser possível transformar a sociedade sem classes e sem miséria. Hoje quero falar de coerência e prestar uma homenagem. Alias ainda sobre o texto de ontem, a pessoa homenageada aqui, me inspirou a escrever sobre o oposto dela, pois a mesma é um exemplo de compromisso com os pobres e excluídos.

Dona Cidinha, uma senhora de seus sessenta e poucos, mãe, avó, viúva de um Palmeirense porreta, é a personificação de uma heroína. Destas anônimas, as quais incluo minha mãe e minha vizinha Dona Zélia, a qual falarei em outro escrito. Nunca soube que uma ação desta vovó, serviu para alça-la ao estrelato rumo a busca de interesses pessoais. Há conheci no inicio dos anos 90, quando fui viver com a Nadir. Naquele tempo, ela já se dedicava aos seus meninos, como ela faz questão de frisar a todo momento.

Na Pastoral da Criança, exercitava a dimensão do Cristo humano, face daqueles que sofrem, por conta de um sistema de concentração de renda e saber. Tomou gosto pela realidade daquelas crianças e muitas vezes as assumiu como se fossem suas, tivessem saído de seu útero. Foi a primeira Educadora do CEDECA, o Centro de Defesa criado por militantes Cristãos e de Esquerda. Foi lá na entidade, que teve um contato, com o mundo que usa adolescentes para aumentar os lucros dos ricos. Sofreu e sofre até hoje com isto, as vezes se sente com as mãos atadas por não poder modificar este estado de coisas de uma vez. Paciente e muito franca. Já vi Dona Cidinha, proferir palavras, que há muito queríamos dizer, mas faltava coragem para tanto. Ela com sua simplicidade, dizia mais do que muitos com titulo acadêmico na mão.

Bem eu disse que este texto era uma homenagem, bem como falaria sobre coerência. O Internauta deve estar perguntando, cadê a coerência? Promete e não cumpre?.

Dona Cida é a coerência. Vou tomar a liberdade neste texto e chama-la de Senhora Coerência. Enquanto muitos ao longo dos anos 90, desistiam de lutar, foram enfurnar-se em suas salas assistir a novela das oito, Senhora Coerência, estava lá no CEDECA, sem ganhar um tostão, amparando, protegendo, meninos e meninas do crime, da falta de oportunidades. Enquanto muitos sossegaram seus traseiros em cadeiras atrás de mesas de sindicatos, gabinetes, Dona Cidinha, estava lá denunciando os maus tratos que a Policias, as autoridades, faziam e fazem a nossas crianças e jovens.

Foi por isto que ela foi eleita em 2003, para o Conselho Tutelar, com a maior votação daquele processo e agora reeleita no mesmo Conselho. Senhora Coerência, ta pouco se lixando com o salário que ganha ou vai ganhar. Para ela isto é apenas para que ela possa ter maior tranqüilidade para enfrentar os que insistem em abusar do poder para explorar e excluir os pobres. Ao contrario de muitos, que disputam processos eleitorais de olho no numerário, Dona Cida ficou durante anos, a frente do CEDECA sem ganhar um níquel sequer.

Prezo a coerência, pois ela é irmã gêmea do compromisso e prima em primeiro grau da Ética. Vejo todos estes valores em Dona Cidinha Campos. Fico entristecido quando ouço ou presencio ações que denigram a conduta política de pessoas como Dona Cidinha.

A Coerência é fundamental para um projeto de mudanças profundas na sociedade. Guevara em seu Homem novo, trabalha a substituição de valores e a destruição de nocivos valores do Capitalismo, como o preconceito, levar vantagem em tudo, o individualismo e assim por diante.

Em tempos de crise profunda das esquerdas, onde o desbunde, a falta de compromisso, o tirar vantagem da coisa pública, o fazer carreira as custas do movimento, é um elixir de morango, poder contar com uma guerreira e lutadora como Dona Cidinha, a Senhora Coerência.