quinta-feira, agosto 23, 2007

HOMEM PRIMATA. CAPITALISMO SELVAGEM


Primus, ave Primus. Primeiro de uma raça?. Darwin, dizia que sim, e muitos acreditavam, dizendo que Deus estava morto em suas mentes e que a criação e evolução nada tinha de divino. Mas teorias feitas, credos professados, o que importa, que o Primus ou o macaco, animal, de bilhões de anos, em seu habit vivia intensamente a Liberdade, não se importava com convenções ou dogmas, apenas com as leis que a natureza, lhe reservou.

Primus é também, o titulo de um espetáculo teatral. Não é um espetáculo qualquer. Trata-se de uma maravilha de História, que através da alegoria, da metáfora e da simbologia, propõem-se á contar como um Macaco, saia de seu estagio liberto, transforma-se em quase humano, após resistir a prisão, torturas, á escravidão e seu amestramento, tudo para tornar-se quase Homem.

Há sete anos em cartaz, a peça baseada no conto Comunicado para a Academia de Franz Kafka, o autor checo, da literatura fantástica e trágica, tem a encenação da Boa Companhia de Campinas. O espetáculo abriu o 3º Festival Nacional de Teatro de Limeira.

Um cenário simples, o qual os atores, em numero de quatro, trocavam de vestuário durante as cenas, era composto de caixas de um metro mais ou menos de altura por uns 20cm de largura, as quais eram movimentadas, ora servindo como instrumento de percussão, ora, palco, ora biombo, ora cela de prisão. Além disto, atabaques são usados para complementar os números de percussão. Ao fundo do palco, um telão, que não foi desligado um minuto sequer. Na tela, grande, imagens as quais interagiam com o que acontecia no tablado. A sonoplastia, complementava, os urros, sussurros e gritos dos atores.

A História desenvolve em um ato apenas, com duração de um pouco mais de uma hora. Os atores não pararam um segundo sequer. Sua caracterização como animais, chega quase a perfeição. Nos esqueçamos, de que o que vemos são seres humanos. Em especial, destaque para o ator Moacir Ferraz, que este sim deu um show de caracterização de personagem.

Os atores cantam. A interpretação em dialeto africano, arrepiou a todos os presentes no Teatro Vitória, local da apresentação. Eles fazem números de sapateado. Mas o golaço, é a utilização corporal e facial, a estética do espetáculo é magnífica, em grande parte pela movimentação dos atores.

A peça, tira risos da platéia, mas não é uma comédia. É um drama de reflexão. Reflexão da alma humana e de sua capacidade, de destruição da própria vida humana.

O nazismo passava pela tela, enquanto Primus, era acorrentado e humilhado. As guerras entre elas a do Vietnã, desfilavam no telão, enquanto Primus, era torturado e encarcerado. A miséria e a fome, eram projetadas na tela, quando os algozes de Primus, o forçavam a escolher entre a humilhação e a cooptação do Show Bussines.

Primus em uma frase desesperadora “Eu buscava uma saída: pela esquerda ou pela direita, fosse por onde fosse”, dá o tom das encruzilhadas de um mundo globalizado e capitalista. O macaco, escolhe o que acha ser o caminho mais fácil e claro duradouro: o Show. E dá lhe Xuxas, cachorras e outras mazelas alienadoras.

Primus é um primor recortes sobre duvidas e anseios humanos, o da fama e do dinheiro versus o da Liberdade e da Dignidade. Belo que merece ser revisto varias vezes, quem sabe Darwin tinha a razão e nossa evolução seja a volta ao Homo Macaco.

PS: A Boa companhia tem um site na rede: http://www.aboacompanhia.art.br/.