sábado, março 14, 2009

O INFERNO SÃO OS OUTROS


Esta frase saiu da boca do personagem Garcin do espetáculo “Entre quatro paredes”, do francês Jean Paul Sartre. Escrevo este texto depois de rever uma cópia do roteiro da peça, que esta sendo lida pelo meu amigo, Ronald Gonçales, Assessor do Vereador Farid Zaine. Sartre sempre foi um de meus autores preferidos. Primeiro por sua evolução teórica, de um autor calcado no existencialismo (mesmo criticando Nietzsche) sem chão pratico, para um filosofo que acreditava ser o papel dos intelectuais o engajamento social, nas lutas populares. Durante toda sua vida, militou em varias causas de esquerda, e alem de tudo rompeu com o Partido Comunista Francês, questionando o Stalinismo e conclamando a liberdade. O segundo motivo de minha preferência é sua fé no ser humano, pois defendia que só os humanos tinham uma essência que precedia sua existência. Portanto a capacidade de pensar e agir, sem instintos e de forma racional. O terceiro motivo, sua coragem em romper com os formalismos e padrões da sociedade. Cito dois exemplos: sua recusa em receber o premio Nobel de Literatura em 1964 e sua relação com a escritora Simone de Beauvoir , em que se admitia outras relações amorosas, mas que sempre um volta para outro.

Reli então Entre quatro paredes, segunda incursão de Jean Paul pela dramaturgia. Escrita em 1944, ainda com a França ocupada pelos Nazistas, Sartre procura com esta obra discorrer sobre seus pensamentos filosóficos, bem como utilizar uma linguagem metafórica, muito própria de tempos de repressão e que vai caracterizar quase toda a obra Sartriana. Ao contrario de seu primeiro trabalho teatral “As Moscas”, onde Sartre bebe da fonte da mitologia grega, para falar de Liberdade, da livre escolha do ser humano na vida, em Entre quatro paredes, a temática é toda existencialista. Vai rasgando os dramas pessoais dos personagens, deixando-os nus, um diante do outro.

A História se desenvolve em um único ato e em um único cenário. Jean Paul Sartre há muito almejava fazer um espetáculo, com esta estrutura, por entender que a ação seria de melhor entendimento do público por estar concentrada em um ambiente só. Um elenco formado por quatro personagens: Garcin (um homem de letras, exponhe toda a sua covardia, com atitudes de agressividade e indiferença); Inês (cheia de ódios, não se esconde atrás de aparências e se diverte com o sofrimento dos outros. È homossexual e se interessa por Estele); Estele (Despreza Inês, mas pela condição social.Estele é uma Burguesa, que em nome do conforto e de conveniências de classe, matou a criança que teve de seu amante); e por ultimo um criado, que tem uma participação enigmática no texto.

O inferno é o local que se desenvolve a trama. Mas não o inferno da mitologia cristã, aquele de fogueiras, diabinhos com tridentes. Uma sala em um estilo segundo império, com sofás e uma lareira que mantem uma estatua de bronze em sua base superior. Os três são confinados ali. No começo há todo um constrangimento e duvidas, quanto ao local, o que exatamente era aquilo. Nenhum dos personagens se conhecem, aos poucos seus problemas vão sendo revelados, com muita disputa entre eles, onde o egoísmo, a sedução, a truculência são utilizados neste jogo de poder.

No final os personagens descobrem que não haverá carrascos que farão deles churrasquinho no rolete. Eles mesmos serão torturados uns dos outros por toda a eternidade.

No Brasil teve varias montagens, entre as mais famosas, a primeira de 1950, pelo Teatro Brasileiro de Comédia, com direção de Adolfo Celi e a segunda em 1974, com direção do cinemanovista Sergio Luis Person (São Paulo S/A), com Nathalia Timberg (Inês), Liliam Lemmertz (Estele), Luiz Linhares (Garcin) e Antonio Maschio (o criado).

1 Comments:

Blogger Ronald Gonçales said...

Janjão, vc sempre mandando muito bem nas palavras. O texto de Sartre nos traz uma dura realidade, do tanto que a mediocridade das pessoas nos leva para um mundo terrivelmente torturante! Estou apaixonado pelo texto. Na estréia, você será o meu (ou melhor, nosso) convidado de honra! abração.

março 17, 2009 11:15 AM  

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