domingo, março 22, 2009

PERSONAGENS DA MINHA CIDADE I


MILITANTES DO FUTEBOL

Era um domingo daquele ano de 1970. Meu pai, passava as ultimas instruções para minha mãe- Rita, assim que a gente sair você fecha o bar e o reabre lá para umas quatro da tarde, começa a fritar as cochinhas e os Kibe, para quando o time chegar. E lá ia nós, eu com sete anos e meu pai, subindo na carroceria aberta de um caminhão de turma, do corte de cana. Íamos para mais uma partida de Futebol, do Paulistinha ou Paulista do Bar, equipe amadora do meu Pai. Os jogos sempre após o almoço, e na maioria das vezes, em um campo da zona rural da cidade: São Jerônimo, Marrafom, Parronchi, Centro Rural do Pinhal, Jaguari e outros. As vezes, jogava-se dentro do perímetro urbano. Meu Pai, boleiro, desde sua adolescência, viu no hobby de treinador, a forma de expressar seu amor ao Futebol. Nosso bar era ali na Rua Paraíba, no alto da Vila Esteves, onde morávamos a época. E foi ali que comecei a acompanhar o futebol amador e varzeano da cidade.

Ao longo de uns 15 anos até quase uns 23 anos, tive contato com este esporte, onde o prazer é que movia as pessoas, e não vantagens financeiras ou benesses qualquer. Eram operários, que ralavam oito horas diárias dentro de uma fábrica, loja, lavoura e outra atividade econômica. Moravam quase todos nas periferias do município, onde vários bairros estavam se criando em função da migração principalmente de Mineiros e Paranaenses. O futebol aos domingos, era o ponto de aliviar o estresse destes homens a maioria jovens, entre treze e vinte e cinco anos. Ali a diversão e o congraçamento eram situações certas. A solidariedade entre eles, foi um aspecto que detectei desde o inicio. O time tinha uniforme, gastos com transporte, com as comemorações após as partidas. Não havia patrocinador famoso, a famosa vaquinha ou o sistema de contribuição mensal, eram uma das formas para manter este lazer tão importante. As vezes uma briguinha dentro ou fora do campo, acontecia mas nada que gera-se, violência a ponto de tirar vidas e afastar as pessoas da pratica do esporte.

Equipes lendárias e que revelaram vários jogadores até para equipes profissionais da cidade e do estado. Destaco, o Rosalia do alto da Vila Esteves, o Refiunião, o Primavera (do saudoso Peixeiro), o Lazinho (do Saudoso Dirceu do Paulistano), o Ipiranga (do Osvaldinho e do Polêmico Toureiro), o Paulista do Mercado (do Zezinho da Barbearia ali da Sete de Setembro), o Corintinha (do Charuto) e outros. Meu pai gostava de dirigir equipes novas e sem muita badalação, de preferência de vila, como se costumava falar naquela época: Vasquinho do São Cristóvão, Citral, ABC e SERVA, da Vista Alegre. Mas passou também por equipes com uma estrutura melhor, como o Juniores da Inter de Limeira nos anos 70, o Serafim (do ex Vereador Ismael Calça) e o Santa Cruz (do Boleiro Chicão). Desfilaram pelos campos do futebol de diversão em Limeira, jogadores que depois incursaram pela vida profissional, como Dadona, Tite, João Ferraz, Paulinho Caju, Airton Vermelho, Osmar Cetim e muitos outros.

Os locais dos jogos, a maioria sem alambrados ou instalações como arquibancadas para os torcedores. Muitos dos campos de jogo, tinham metade grama, metade areia. Não havia ajuda da administração municipal, que cuidava apenas dos estádios para as duas equipes profissionais da cidade. Mas o amador na cidade era um sucesso, um celeiro de revelações e de bons jogadores.

Posso citar de memória alguns confrontos que marcaram o futebol amador na cidade. Os jogos entre as equipes amadoras do Galo e do Leão, que mesmo com os profissionais, mantinha os times nos campeonatos. Os derbis de vila, como SERVA e ABC, Morro Azul e Piratininga, Rosalia e Independente. Partidas memoráveis, como os quatro a um do Primavera do Peixeiro, contra o todo poderoso do Lazinho, ou a final entre Serva e Internacional no Limeirão, um 3x2 que colocou sob suspeitas alguns jogadores da equipe do JD. Vista Alegre (é suborno também tinha naquela época).

Os árbitros estes eram atração dos espetáculos, como são até hoje. Cansei de ver os caras correndo para o vestuário, com medo de apanhar, não havia proteção policial, não. De cabeça, me recordo dos nomes do Baca, engraçadissimo, do Carlão, do Manga e do Ditinho. Árbitros que se profissionalizam depois, como Flavio de Carvalho, apitaram em nossa várzea.

Tempos áureos em nosso futebol. Tempos que dinheiro não tinha a menor importância. A paixão pelo esporte e o que dele se retira, como espírito de coletivo, solidariedade, amizade, é o que realmente interessava. Este texto é uma homenagem a todos os boleiros citados e não citados, e em especial a meu Pai, o João Lopes como é conhecido na Várzea, pela belíssima contribuição que deram para a formação de bons craques e por que não grandes seres humanos.